29 abril 2008

Cidadãos mobilizam-se pela legalização das drogas leves

A legalização da cannabis foi o tema da conferência realizada esta quarta-feira na Faculdade de Letras de Lisboa. Os oradores defenderam o direito à livre escolha e ao consumo responsável e lembraram também os seus benefícios terapêuticos. Promovida pelo movimento "COM.Maria", esta iniciativa precede a Marcha Global da Marijuana que se realiza no dia 3 de Maio em cidades de todo o mundo, incluindo Lisboa e Porto.

"Não importa colocar a tónica no uso medicinal da cannabis, mas no direito à consciência e ao consumo livre, como sucede com o álcool, a que temos direito desde que não prejudique ninguém", defendeu ontem Luís Fernandes, na conferência realizada na Faculdade de Letras de Lisboa.

O orador e docente da Universidade de Psicologia do Porto, afirmou já ser chegado o momento dos portugueses reclamarem "a não ingerência do Estado" numa questão da esfera pessoal. "Basta de paternalismo porque temos direito ao consumo responsável" - acrescentou.

Também na mesa e também do Porto, Bruno Maia enunciou os benefícios terapêuticos da cannabis na prevenção do vómito e do enjoo, bem como analgésico ou desencadeador do apetite. Na lista de doenças em que a cannabis pode ser utilizada, - de acordo com dados preliminares de alguns estudos - o médico convidado incluiu a esclerose múltipla, as doenças oncológicas e relacionadas com anorexia, a Sida, Parkinson e o glaucoma.

"Para chegar à legalização precisamos de convencer a maioria dos parlamentares, e apesar de ser ser difícil, é mais fácil demonstrar a irracionalidade da ilegalização do que fazer a apologia do caractér inócuo ou benéfico da cannabis", afirmou da plateia um membro de um movimento cívico de defesa de portadores de HIV.

Luís Fernandes acrescentou que um movimento a favor da legalização "passa por democratizar a informação, por escrever em blogues e criar sites", com o propósito de desmistificar a ideia de quem começa por fumar haxide ou erva acaba a consumir heroína ou cocaína. "Quem trabalha nas drogas sabe que escalada é um mito e que a cannabis não é uma entrada nas drogas duras" - rematou.

Pedro Pombeiro, um dos organizadores da Conferência, disse ao Diário de Notícias que um dos objectivos do movimento "COM.Maria" é contribuir para alterar a lei. "Queremos que seja reconehcido que é possível ter uma relação saudável com a cannabis", lembrando o passo positivo mas insuficiente que foi a lei de descriminalização do consumo de 2000, em que o toxicodependente passou de criminoso a doente. O estudante de Antropologia do ISCTE criticou ainda o Procurador Geral da República, que há pouco tempo, quando questionado sobre a violência escolar, disse que passar dos pequenos para os grandes ilícitos é um caminho fácil e provável, tal e qual como passar das drogas leves para as duras.

A Marcha Global da Marijuana realiza-se no dia 3 de Maio em cidades de todo o mundo. Em Portugal é a terceira vez que se vai realizar, em Lisboa e no Porto.


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